quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amargura do fel, doçura do néctar

Após nove meses
Enfim chega o dia.
Gemido ensurdecedor
Surgem lágrimas de dor
Precedendo as de alegria.

Céu se fecha em tempestade,
Alma se encerra em tristeza,
Porém quando a chuva cessa traz fecundidade,
Com o brilho do sol, a beleza.*

Já diz o ourives que trabalha
O metal em fogo ardente
Que quanto mais tempera o aço que talha
Mais ele se torna resistente.

Na ramagem espinhosa
A subida é dolorida,
Mas infindável é o prazer
De beber o néctar da rosa da vida.


*Com o brilho do sol (traz), a beleza.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O confronto


Eis que me embrenhava por floresta densamente fechada pela vegetação. As copas das grandes árvores impediam a passagem da luz e os cipós dificultavam o caminho. Estranhos ruídos provocavam-me calafrios. Medo, muito medo! Andava às cegas, guiado pelo instinto que me mostrava o caminho. Porém, uma estranha fera confundia-me para que eu jamais chegasse ao meu destino. Dizia-me coisas incompreensíveis que me chegavam ao íntimo sem passarem pelos meus ouvidos. Fazia-me temê-la tanto que chegava a tê-la como verdadeira amiga, protetora, minha guardiã. Fazia com que me prostrasse diante dela e a adorasse. Por muitas vezes, eu me libertava continuando o meu percurso. Um momento de intensa alegria... Eu estava vendo a luz... finalmente a luz! Decepção. Era outra ilusão provocada pela fera. Essa falsa luz, ao invés de permitir que eu enxergasse, ofuscava-me a visão. E por muitas vezes isso tem se sucedido. Um dia, andando pela escuridão e novamente guiado pelo instinto, vi ao longe uma claridade. Segui incessantemente naquela direção e cheguei a uma deslumbrante clareira. Brilhava um imenso sol que iluminava sem que a vista se cansasse. Havia rochas das quais minavam águas cristalinas e vivificantes. Era um lugar esquecido pelo tempo; apaziguador. Já não sentia mais o peso do corpo. Tinha apenas sede, aquela sede que parecia durar milênios. Dirigia-me à fonte quando, de repente, ouvi acima de minha cabeça, numa árvore, um ruído. Olhei e vi a fera: uma grande pantera negra mirando-me com seu olhar magnético. Saltou em minha frente e caiu sobre dois pés. Ali estava eu, frente a frente comigo. Eu estava vestindo uma túnica branca e resplandecente. Ele trajava uma túnica negra. Tentava impedir minha passagem mas, na luz eu era bem mais forte. Levou a mão à cintura e sacou sua espada. Fiz o mesmo, nem sei como. Começamos a lutar. Sabia de antemão todos os golpes que eu iria aplicar e contra-atacava-os. Porém, quanto mais eu permanecia na luz, mais consciente tornava-me e aprendia a conhecer minha face oculta. Ele, aos poucos, tornava-se transparente e ao tocá-lo com minha espada, desapareceu por completo. Afinal, havia vencido meu inimigo. Agora, iria tomar daquela água para que pudesse viver. Tudo em paz. Sentei-me à beira do riacho. O dia estava lindo e os pássaros cantavam. Quando me abaixei para beber, percebi que a água estava podre e cheirava muito mal. Um córrego estava sujando-a. Levantei-me e ao virar, me assustei dando de cara comigo novamente.
— Não! — gritei — O que você quer de mim?
Ele sorriu.
— Não beba dessa água! Do contrário morrerá! Não há saída! De nada lhe valerá a luz sem a água. Venha fundir-se a mim.
Eu já estava cansado, com muita sede e enfraquecendo.
— Você não me venceu. — disse ele.
Uma espessa camada de nuvens cobriu o céu impedindo a passagem da luz. O dia se fez noite. Ele caiu de quatro tornando-se pantera. Olhou-me e rugiu. Saí correndo e entrei novamente na mata sendo perseguido.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Lembranças

Paro o carro perto do cais
Olhando o navio que ao longe vai.
Lembro nossos tempos de criança.
Você e eu a sós,
Simplesmente nós,
Agora apenas imagens,
Lembranças.
Ah, se fosse hoje neste instante
Não, não seria como antes!
Nos abraçaríamos forte,
Nos beijaríamos,
Nos amaríamos
Com a certeza com que a bússola
Aponta pro norte.
Mas um dia parti
Como aquela gaivota que
Voou para longe daqui,
E ao retornar, verde não era mais o monte.
Mas lindo foi nosso jeito de amar,
E lindo é poder ver no horizonte
Nossas lembranças em seu terno olhar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nabi

Nabi vivia numa aldeia de pescadores. Nascera naquele povoado e de lá jamais saíra. Era um jovem robusto, de olhos claros e pele queimada por causa do sol e da água do mar. Acordava tão logo raiasse o dia, tomava seu desjejum e dirigia-se à praia onde ajudava a consertar as redes que a pouco haviam sido recolhidas. Amava a natureza e em tudo que o cercava pressentia haver um grande mistério. Ficava horas a fio observando as gaivotas que, num harmônico bailado, cruzavam céu e oceano, subindo e descendo em voos rasantes. Quando livre dos afazeres, atracava seu barco próximo a uma ilhota que somente ele conhecia. Lá, costumava mergulhar, nadando entre cardumes das mais variadas cores e espécies. As águas eram claras, de forma que, a luz atravessava facilmente a superfície permitindo uma visão panorâmica do fundo. Havia colônias de algas que transformavam tudo num imenso tapete verde. Saía dali ao cair da tarde chegando em casa quando o sol já estava para se por. — Que belíssimo espetáculo! Toda a paisagem tingida de rubro e, depois de certo tempo, perdendo-se em meio à escuridão.
No entanto, alguma coisa perturbava o rapaz. Ouvia como que vozes interiores a lhe falar, tinha estranhas visões e sonhava com o que ainda estava para acontecer. Tudo começou por volta dos sete anos de idade. Estava sentado às margens de um lago, atirando pedras e observando calmamente as ondulações que elas descreviam à flor d’água. Aos poucos, foi fluindo-lhe uma imagem: um dos pescadores era atacado vorazmente por um gigantesco tubarão branco. Viu tudo em detalhes e reconheceu perfeitamente o local do trágico incidente. A água coalhou-se de sangue desfazendo a visão por completo. Levantou-se subitamente, correndo em direção à sua casa. Chegou totalmente sem fôlego, atirando-se ao pescoço da mãe e tendo os olhos cheios de lágrimas.
— Meu Deus! O que houve, filho? — indagou a mulher enquanto apertava-o contra o peito.
Ele tentava responder mas, a voz morria-lhe no fundo da garganta. Permaneceu mudo o restante do dia.
A noite começava a cair e não havia nenhuma notícia de Jonas. Ninguém mais o vira desde a madrugada; hora em que, rotineiramente, dirigiam-se para alto mar. Já era tarde para se dar início as buscas ainda naquele dia.
Da varanda de sua casa, Nabi contemplava o firmamento. Seu coração achava-se mergulhado na mais profunda tristeza. Via em cada um daqueles pescadores a imagem de um pai. Tio Jonas; era assim que costumava chamá-lo. Agora, buscava-o entre as estrelas do céu. Sua mãe dizia que quando as pessoas morriam viravam estrela. Qual delas seria ele?
Amanheceu. Simão, líder da aldeia, organizou três equipes de busca. Uma percorria a área próxima ao litoral. As outras duas vasculhavam as ilhotas que encontravam-se espalhadas pela região.
— No Rochedo das Chamas! — dizia o menino consigo mesmo. Não se atrevia contar a ninguém o que tinha visto.
Passavam-se as horas, sem que se obtivesse qualquer resultado nas buscas. Já haviam percorrido dezenas de estádios através da costa e pouco além da plataforma continental. Era quase hora nona quando, próximo ao Rochedo das Chamas, encontraram o corpo. Recebia tal nome porque nas noites escuras era tomado por fogos misteriosos que podiam ser avistados da praia. Tinham-no como um lugar sagrado.

Enquanto Nabi assistia ao por do sol, recordava a história que, naquela época, seu pai narrou a fim de consolar-lhe:
“— Há muito tempo, no cume de um monte, nasceu um lírio branco. O terreno era pedregoso e fortemente castigado, oras pelo vento, oras por sol e chuva, conforme a estação do ano. Numa manhã de primavera, começou a abrir passagem por uma pequena fenda entre as rochas, uma frágil plantinha, com a persistência de quem já amava a vida. Nutria-se apenas da pouca terra que suas raízes conseguiam alcançar e das gotículas de orvalho que sorvia. Com o passar das semanas ela foi crescendo, tornando-se bem verdinha, até que desabrochou na forma de uma bela flor branca de pétalas sedosas. Como para tudo há o seu tempo, um dia a planta começou a murchar. Porém, o vento, soprando forte, espalhou as sementes. Dessa forma, as campinas da região acabaram povoadas por milhares de lírios brancos. Assim é o homem — disse Simão concluindo o discurso — nasce e cresce tendo que enfrentar os desafios da vida. Só colhe a flor da felicidade aquele que luta por ela. Chega um dia também a sua vez e ele morre mas, continua vivo no amor que transmitiu à sua descendência.”


sábado, 20 de outubro de 2012

Teoria das cores

Cor é a maneira como o cérebro interpreta a radiação luminosa dentro da faixa visível da luz que se compreende entre 380 e 750 nanômetros (medida de comprimento de onda) e suas respectivas frequências. Assim a cor não é um fenômeno físico, e sim subjetivo, que varia para cada espécie animal e mesmo entre pessoas diferentes.

Temos no olho células especiais para essa percepção: os cones e os bastonetes que se localizam na retina. Os primeiros são responsáveis pela diferenciação das cores em si, ao passo que, os segundos captam a luminosidade. Nós humanos possuímos visão tricromática (teoria de Young-Helmholtz), tendo três tipos de células cones, enquanto a maior parte dos mamíferos tem apenas dois tipos. Temos cones responsáveis pela percepção das cores na faixa do vermelho (vermelho e laranja) e do verde (verde e amarelo) em número de 94%, enquanto os do azul (azul e violeta) somam apenas 6%, sendo uma característica evolutiva dos primatas. Há pessoas que apresentam alguma deficiência na distribuição dos cones, não conseguindo diferenciar muito bem as cores. Esse problema constitui o daltonismo.
 
Breve história da teoria das cores

Ao longo da História houve várias teorias sobre as cores. A mais antiga delas foi elaborada pelo filósofo grego Aristóteles na qual ele concluiu que as cores eram propriedade natural dos objetos assim como peso e material dos quais os mesmos eram feitos.
Durante a Idade Média ela foi abordada a partir de parâmetros socioculturais e psicológicos. Na época do Renascimento ela foi amplamente estudada pelos artistas.
Leonardo da Vinci escreveu o seu Tratado da pintura e da paisagem no qual se opôs a Aristóteles afirmando que as cores seriam propriedades da luz e não dos objetos e padronizou as consagradas cores primárias das artes plásticas que veremos posteriormente.
Em 1676 o físico inglês Isaac Newton decompôs a luz nas cores do espectro solar (vermelho, laranja, amarelo, verde, ciano, azul e violeta) valendo-se de um prisma de três faces e tornou a reuni-las, fazendo-as passar por uma lente. Criou também um disco dividido em sete cores e reproduziu a luz branca fazendo-o girar rapidamente. Devemos salientar que o espectro luminoso é um contínuo de cores com incontáveis intermediários. Newton tentou, na verdade, associá-las às notas musicais. No início do século XIX, o também físico inglês Thomas Young (1773 - 1829) propôs a teoria tricromática, sendo desenvolvida posteriormente pelo cientista alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894).

Cor-luz e cor-pigmento

Temos dois conceitos básicos de cor: cor-luz e cor-pigmento. Chamamos de cor-luz aquela que percebemos diretamente de uma fonte de luz, como a luz do sol e das estrelas, de lâmpadas e de monitores de televisão ou computador. É utilizado no cinema na fotografia, na eletrônica e na informática. Uma vez que percebemo-la mediante a emissão de fótons, chamamos a essa cor de aditiva. Devemos notar que o branco é resultante da fusão de todas as cores ao passo que o preto é a ausência de luz.
Cor-pigmento é aquela obtida a partir da luz que incide sobre os objetos que absorve parte da mesma e reflete justamente aquela cuja frequência ele não consegue absorver. Chamamos a este modelo de subtrativo ou refletivo. É usado nas artes plásticas, principalmente na pintura, nas artes gráficas, como nas impressoras off-set e dos computadores.

Cores primárias, secundárias e terciárias

Entendemos como cores primárias aquelas que não podem ser originadas a partir de outras cores e ao se misturarem entre elas formam as secundárias. Usaremos como modelo de cores aditivas (luz) o padrão RGB e o padrão CMY para as cores subtrativas (pigmento), embora o RYB (vermelho, amarelo e azul) seja padrão nas artes plásticas.
As cores primárias da luz são vermelho (Red), verde (Green) e azul (Blue) que ao se combinarem formam as secundárias ciano (Cyan), magenta (Magenta) e amarelo (Yellow):
Vermelho + verde = amarelo
Vermelho + azul = magenta
Verde + azul = ciano

As cores primárias da luz serão as secundárias do pigmento e vice-versa. Logo as cores primárias do pigmento são ciano (Cyan), magenta (Magenta) e amarelo (Yellow) que originam as secundárias vermelho (Red), verde (Green) e azul (Blue) ao se combinarem:
Ciano + magenta = azul
Ciano + amarelo = verde
Magenta + amarelo = vermelho

A mistura das cores primárias da luz resulta no branco e das primárias do pigmento, no preto.

As cores terciárias são resultantes da combinação de uma cor primária com uma secundária. Para estas as combinações são sempre as mesmas não importando tratar-se de cores aditivas ou subtrativas. Observa-se que a cor complementar de uma cor terciária será sempre outra terciária. Resultam em seis novas cores:
Vermelho + amarelo = laranja
Verde + amarelo = oliva
Verde + ciano = turquesa
Azul + ciano = celeste
Azul + magenta = violeta
Vermelho + magenta = cor-de-rosa


Cores complementares

Cores opostas ou complementares são aquelas que ao reuni-las obtemos novamente a luz branca da qual a mesma foi separada. Para tentarmos compreender de modo mais prático esses fenômenos das cores, vamos imaginar o seguinte:
Temos uma maçã vermelha. Ela é dessa cor porque ao receber a luz branca, absorve a frequência equivalente ao ciano e reflete a radiação que ela não consegue absorver: o vermelho. Portanto:
Branco – ciano = vermelho
Vermelho + ciano = branco (vermelho e ciano são cores opostas entre si e complementares ao branco)
Temos como principais cores complementares: vermelho e ciano, verde e magenta, azul e amarelo. Observe as demais no mapa de cores.
As cores podem, ainda, nos sugerir sensações de frio ou calor conforme seu aspecto, sendo assim, classificadas como quentes ou frias.

Sistema RGB

É um sistema de cor aditivo (cor-luz) composto por vermelho (Red), verde (Green) e azul (Blue), baseado na teoria da visão tricromática de Young e Helmholtz.  É utilizado em equipamentos eletrônicos, no cinema, fotografia, TV e informática, sendo considerado como padrão para as páginas da internet.
Sua representação só foi possível nos meios eletrônicos a partir do desenvolvimento dos tubos de raios catódicos (o conhecido tubo dos televisores) pelos quais foram desenvolvidos os visores coloridos. Neste temos três projetores com as cores primárias da luz (que constituem a peça chamada croma) que originam a imagem no monitor. Hoje o tubo está sendo substituído por displays de plasma ou LCD.
Na informática geralmente é utilizado o valor de 1 byte (8 bits) para cada canal de cor sendo possível totalizar 256³ = 16.777.216 cores. Temos sua representação numérica no sistema decimal (que é apresentado no mapa de cores) e no sistema hexadecimal (base 16), também muito utilizado nos programas de edição de imagem.
Além do RGB há outros sistemas aditivos como, por exemplo, o HSB, HLS e Lab.

Sistema CMY ou CMYK

É o sistema de cores subtrativas oposto ao RGB. A letra K representa o acréscimo do preto: blacK ou Key uma vez que o mesmo é considerado uma cor chave na indústria gráfica. O preto obtido através da mistura das três cores primárias não é puro, comprometendo a qualidade da impressão, além do fator econômico, visto que, a tinta preta é a mais barata do mercado. Esse sistema de impressão é chamado de quadricromático.
O sistema CMYK não consegue reproduzir toda a gama de cores do RGB, que é significativamente maior, logo a imagem impressa nunca é igual a que se vê num monitor.

Sistema RYB

RYB é o sistema criado por Leonardo da Vinci em sua teoria das cores. Tem como cores primárias o vermelho (Red), o amarelo (Yellow) e o azul (Blue); e como secundárias o laranja, o verde e o violeta. Naquela época não havia os mesmos conhecimentos científicos sobre as cores que temos agora. Com isso esse sistema fez escola dentro das artes plásticas embora cientificamente inexato. Os pigmentos magenta e ciano não são encontrados com facilidade na natureza sendo substituídos respectivamente por vermelho e azul. Hoje são produzidos sinteticamente pelas indústrias de tinta. De qualquer forma esse padrão foi tão consagrado que dentro das artes gráficas as cores ciano, magenta e amarelo, às vezes, são chamadas de “azul processado”, “vermelho processado” e “amarelo processado”.
Temos as combinações:
Vermelho + amarelo = laranja
Vermelho + azul = violeta
Amarelo + azul = verde

Existem, ainda, outros padrões de cores subtrativas como, por exemplo, o Pantone.