quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O confronto


Eis que me embrenhava por floresta densamente fechada pela vegetação. As copas das grandes árvores impediam a passagem da luz e os cipós dificultavam o caminho. Estranhos ruídos provocavam-me calafrios. Medo, muito medo! Andava às cegas, guiado pelo instinto que me mostrava o caminho. Porém, uma estranha fera confundia-me para que eu jamais chegasse ao meu destino. Dizia-me coisas incompreensíveis que me chegavam ao íntimo sem passarem pelos meus ouvidos. Fazia-me temê-la tanto que chegava a tê-la como verdadeira amiga, protetora, minha guardiã. Fazia com que me prostrasse diante dela e a adorasse. Por muitas vezes, eu me libertava continuando o meu percurso. Um momento de intensa alegria... Eu estava vendo a luz... finalmente a luz! Decepção. Era outra ilusão provocada pela fera. Essa falsa luz, ao invés de permitir que eu enxergasse, ofuscava-me a visão. E por muitas vezes isso tem se sucedido. Um dia, andando pela escuridão e novamente guiado pelo instinto, vi ao longe uma claridade. Segui incessantemente naquela direção e cheguei a uma deslumbrante clareira. Brilhava um imenso sol que iluminava sem que a vista se cansasse. Havia rochas das quais minavam águas cristalinas e vivificantes. Era um lugar esquecido pelo tempo; apaziguador. Já não sentia mais o peso do corpo. Tinha apenas sede, aquela sede que parecia durar milênios. Dirigia-me à fonte quando, de repente, ouvi acima de minha cabeça, numa árvore, um ruído. Olhei e vi a fera: uma grande pantera negra mirando-me com seu olhar magnético. Saltou em minha frente e caiu sobre dois pés. Ali estava eu, frente a frente comigo. Eu estava vestindo uma túnica branca e resplandecente. Ele trajava uma túnica negra. Tentava impedir minha passagem mas, na luz eu era bem mais forte. Levou a mão à cintura e sacou sua espada. Fiz o mesmo, nem sei como. Começamos a lutar. Sabia de antemão todos os golpes que eu iria aplicar e contra-atacava-os. Porém, quanto mais eu permanecia na luz, mais consciente tornava-me e aprendia a conhecer minha face oculta. Ele, aos poucos, tornava-se transparente e ao tocá-lo com minha espada, desapareceu por completo. Afinal, havia vencido meu inimigo. Agora, iria tomar daquela água para que pudesse viver. Tudo em paz. Sentei-me à beira do riacho. O dia estava lindo e os pássaros cantavam. Quando me abaixei para beber, percebi que a água estava podre e cheirava muito mal. Um córrego estava sujando-a. Levantei-me e ao virar, me assustei dando de cara comigo novamente.
— Não! — gritei — O que você quer de mim?
Ele sorriu.
— Não beba dessa água! Do contrário morrerá! Não há saída! De nada lhe valerá a luz sem a água. Venha fundir-se a mim.
Eu já estava cansado, com muita sede e enfraquecendo.
— Você não me venceu. — disse ele.
Uma espessa camada de nuvens cobriu o céu impedindo a passagem da luz. O dia se fez noite. Ele caiu de quatro tornando-se pantera. Olhou-me e rugiu. Saí correndo e entrei novamente na mata sendo perseguido.

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